Baseada na estória contada por José Belon, o guarda da montanha
Há lugares que falam. Nem sempre com palavras — às vezes é com silêncios, formas, marcas. E há quem saiba escutá-los.
José Belon é um desses. Guarda da Pedra Azul há mais de trinta anos, ele não apenas protege a montanha: ele a escuta. Ele a interpreta. E de vez em quando, compartilha com os visitantes uma estória que muitos chamam de invenção, mas que poucos conseguem esquecer.
Ele sempre começa pedindo silêncio — não por respeito a ele, mas à imaginação. Diz que não se trata de uma história real, mas de algo mais profundo: uma estória. Daquelas que nascem do chão, da pedra, da poeira do tempo.
E então ele aponta para a encosta polida da Pedra Azul. Do lado esquerdo, bem perto do primeiro buraco visível, há uma marca — funda, arredondada, solitária.
“Aquilo ali”, diz ele, “é uma pegada. Não de bicho. De gente. Gente grande. Gente de um tempo esquecido.”

E começa o relato.
Diz-se que, há milhões de anos, quando a terra ainda respirava fumaça e os homens não tinham nome, um menino subia a montanha. Não era um menino comum. Era valente, era curioso — e andava armado. Naquele tempo, os bebês já nasciam com o instinto de se proteger dos predadores.
A onça, astuta, já o esperava. Agachada entre as pedras, silenciosa como o vento antes da tempestade.
O menino escorregou. O pé afundou na pedra mole, ainda quente de lavas. A unha se prendeu. Foi o primeiro arranhão. Tentou se apoiar, caiu. No susto, o dedo tocou o gatilho. Um estampido rasgou o céu. Dizem que o som ecoou em países distantes, e que o coração do menino parou ali mesmo, petrificado de medo.
A mãe, ao longe, correu. Mas também foi pega. O pai, ao encontrar os rastros e o silêncio, jurou vingança. Encontrou a onça. E devorou-a. Inteira. Mas exagerou — comeu além do necessário. Morreu de barriga cheia. E foi-se sem bênção, sem reza, sem extrema-unção.
A natureza, como sempre, ficou com as marcas.
“Os buracos que vocês veem ali”, continua Belon, “são das mãos do menino, do colar que ele usava, da luta. As arranhaduras… são memória viva da tragédia.”
Alguns riem. Outros duvidam. Há quem registre no celular, e há quem fique em silêncio.
Mas todos — todos — voltam o olhar para a pedra com outro tipo de atenção.
José Belon termina com calma. Diz que a estória não foi contada para entreter. Foi contada para lembrar. Para ensinar que a natureza tem voz, tem alma, tem cicatriz. Que é preciso parar. Admirar. Contemplar.
“Se, por alguns minutos”, ele diz, “eu consegui fazer vocês olharem diferente para essa pedra… então atingi meu objetivo.”
E ele sorri. Porque sabe que, desde que aquela estória começou a ser contada, ninguém mais subiu a Pedra Azul sem procurar pelos arranhões.
Assista: Lenda dos Arranhões da Pedra Azul
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