Se você já ouviu o termo canela-verde e se perguntou por que os moradores de Vila Velha são chamados assim, saiba que essa expressão tem raízes históricas e culturais muito interessantes, que remontam aos primeiros momentos da colonização capixaba.

O que significa “Canela-Verde”?
O apelido canela-verde é uma tradição antiga que inicialmente era usado para identificar exclusivamente os nascidos na sede de Vila Velha, mas hoje se estende a todos os moradores do município. Mas de onde vem esse nome tão curioso?
Duas versões que se complementam
Existem basicamente duas versões sobre a origem do termo, ambas ligadas a elementos da natureza e ao encontro entre indígenas e portugueses.
A versão indígena
Os índios que viviam na região da Prainha, um dos primeiros pontos de contato entre nativos e colonizadores, perceberam que as algas marinhas, abundantes no litoral capixaba, ficavam presas nas canelas (parte inferior das pernas) dos portugueses quando desembarcavam para explorar a nova terra. Essa “canela verde” coberta de algas acabou virando uma forma carinhosa (e até um pouco irônica) de se referir aos recém-chegados.
A versão portuguesa
Por outro lado, os próprios portugueses podem ter influenciado o apelido. Há relatos de que eles usavam meias longas verdes, e ao pisarem na água próxima à costa, as algas grudavam nas botas, dando esse aspecto esverdeado às pernas. Além disso, um momento histórico envolvendo o capitão-mor Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário da capitania do Espírito Santo, reforça essa versão.
O episódio que deu nome a um povo
Quando Vasco Fernandes Coutinho chegou em Vila Velha, no dia 23 de maio de 1535, um grupo de seus tripulantes desceu para ancorar a caravela Glória. Eles precisavam levar as cordas até a terra firme para prender o barco, e para isso, arregaçaram as calças e desceram até as canelas na água. Logo perceberam que suas pernas estavam cobertas por algas verdes, que além de deixar marcas, causavam pequenas irritações na pele — na verdade, provocadas por camarões presentes nas águas.
Durante esse momento, uma discussão curiosa entre os tripulantes sobre as “polainas verdes” virou motivo de brincadeira. Foi então que o próprio Vasco Fernandes Coutinho, ao observar a cena, perguntou: “E os canelas-verdes já retornaram a bordo e aos seus postos?” Essa frase, dita pelo líder, acabou batizando o grupo e, consequentemente, o povo que dali se formaria.
Um apelido que virou identidade
Mais do que um simples apelido, canela-verde tornou-se símbolo de orgulho e pertencimento para os vila-velhenses. Não foi um termo pejorativo, mas sim uma homenagem do próprio donatário, o que conferiu notoriedade e respeito aos primeiros colonizadores e seus descendentes.
Com o passar dos séculos, esse título foi passado de geração em geração, acompanhando o crescimento da cidade e sua gente. Hoje, ser canela-verde é mais do que uma tradição histórica — é um convite a conhecer a rica cultura e a história do Espírito Santo.